terça-feira, 21 de outubro de 2008
Banheiro Químico em Cubatão
Minha tolerência com dias nublados não é muito grande. Mesmo sabendo que a chuva e o vento são os responsáveis pela maioria das boas ondas no litoral norte, depois de um certo tempo, como os meses de outono e inverno, olhar pro céu e perceber que novamente passarei frio dentro d’água me enche um pouco o saco. Nesse sábado foi exatamente assim.
Já na estrada, o tempo estava muito ruim. Até que num determinado ponto dela, passei por um grande canteiro de obras de um futuro viaduto que pretende cruzar por cima do trilho do trem. Tinham alguns poucos operários trabalhando debaixo do temporal e vento forte, todos vestindo pesadas capas amarelas, se equilibrando entre a lama e os vergalhões de aço encharcados. Reservado para eles, um banheiro químico colocado ao lado de um monte de entulho, quase encostado na mureta, a menos de um metro dos carros que cortam a estrada jogando água para os lados.
Me imaginei tendo que usar aquele sanitário (perceba a escolha desse substantivo como ironia). Como se sente alguém sentado ali, ouvindo o tráfego barulhento, a água caindo da chuva ou batendo de lado nas paredes de plástico? Não demorou para que eu associasse aquela situação miserável com o que me aguardava: ondas grandes, mexidas pelo vento maral muito forte, frio e chuva, num dia cinza. Sim, o banheiro químico e o surfe desse sábado eram, na minha cabeça, gêmeos univitelineos e só me restava aceitar, como os operários da obra, esse fato com resignação.
Mas não foi assim. Nunca é como eu antevejo. Se projeto que vai ser clássico, não é. Se tenho certeza que vai ser uma merda, acaba sendo melhor do que imaginei. E como dessa vez pensei que seria um banheiro químico em Cubatão ao lado da estrada num dia chuvoso, o surfe acabou se revelando um dos melhores dos últimos tempos. Para minha alegria e humilhação.
Ilustrando esse post, um trabalho de Takashi Murakami. Depois eu escrevo mais sobre ele.
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