terça-feira, 25 de novembro de 2008

De Pelé a Baudelaire

Comecei a ler um livro chamado Veneno Remédio, do José Miguel Wisnik. O cara é professor literário, poeta, músico, dentre outras coisas, o que o faz um dos maiores intelectuais do País hoje. E, somado a tudo isso, gosta de verdade de futebol. Resultado: praticamente uma obra-prima para quem gosta de futebol e literatura.

É imperdível pelo simples fato de juntar dois mundos que aparentemente não se comunicam. O cara que vai ao estádio xingar o juiz normalmente não escreveria um ensaio sobre futebol e o cara que escreve um ensaio sobre futebol normalmente não vai ao estádio xingar o juiz. E ele faz exatamente as duas coisas.

E através do livro estou descobrindo coisas que eu nem sonhava. A primeira delas é que o Pier Paolo Pasolini - isso mesmo, o cineasta, italiano, que fez Teorema e a Trilogia da Vida - escreveu um mini tratado sobre futebol logo depois da copa de 70. Não encontrei o tratado, mas o Zé (olha eu, íntima do autor), fala um pouco dele no livro.

Basicamente, o Pasolini explora a diferença do futebol latino e europeu através de uma comparação entre prosa e poesia e de como o futebol de alguns países se aproxima mais da prosa e outros da poesia. Daí ele fala da poesia do futebol latino, presente dentro de cada drible do Pelé, da cada jogada inventada, da nossa ginga charmosa de capoeira. E fala do futebol da Itália e do europeu em geral, com aquela cara mais de prosa, sistematizada, com passes triangulados e seguindo um código já previamente estabelecido aos jogadores que não sonham em campo e criam como os nossos.

A comparação vai longe, mas me fez pensar sobre como hoje (quase 40 anos depois) alguns jogadores brasileiros que nem jogam tão bem aqui viram ídolos no Europa. E começa aquela discussão de sempre sobre se é mais fácil jogar na Europa do que aqui e bla bla bla. Afinal de contas, um pobre lateral direito aqui do Brasil vira praticamente artilheiro em qualquer time de lá (vide alguns exemplos como Mancini, Deco, Julio Baptista e por aí vai). E no final, pode ser que o Pasolini tenha total razão. Ainda que o apogeu do futebol-arte tenha passado, a beleza ainda permanece. E talvez a poesia dentro dos dribles dos nossos jogadores conquiste qualquer país.

Porque a verdade é que poesia é para poucos. Ou como dizia nosso amigo Baudelaire (em uma das frases mais lindas da história das frases) - "Sois toujours poète, même en prose”.

4 comentários:

Unknown disse...

ce tá ficando boa nisso, hein!!

Ferr disse...

ma, q foda. eu juro q até to me interessando.

michael disse...

algum problema com laterais direitos?

Mazzola disse...

imagina michael, problema nenhum. Sou maior fã do Djalma Santos! Só foi um exemplo pra dizer que já não se fazem mais laterais-direitos como antigamente e que vale tudo no futebol europeu. Acho que hoje eles jogam mais avançado do nas antigas, certo?